quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Manu é ela!

Visitar grande parte dos cartões-postais de Salvador trouxe renovação ao baiano que nunca havia pisado em terras soteropolitanas, em 23 anos de vida. A fortaleza do sol no Farol da Barra, a Praça da Sé, o Elevador Lacerda fizeram-me perder a coloração amarelada da pele, assim que cheguei em Barra do Choça, na véspera de Natal.
Os parentes logo me gozavam, “ô amarelo, vai tomar um solzinho, vai” - e por mais que eu não quisesse, me livrar do calor escalcante do verão na Bahia era algo impensável. Mas foi na cidade do Pelourinho que uma pedinte me fez ter a certeza que a tonalidade de minha epiderme, de fato, não era mais a mesma. “Me dá uma moeda aí, moreno!”.

Para a noite, marquei um encontro num barzinho, na Cidade Baixa, com conterrâneos que conheci durante o tour solitário durante o dia – com muita inveja, claro, do sotaque carregado deles, que eu infelizmente não tinha. O que seria um bate-papo à beira-mar, ao som das ondas, na parte baixa da Igreja Senhor do Bomfim, tornou-se uma festa ao aniversariante Geraldo, que completava 32 anos. Cláudio, o organizador da surpresa, me levou à churrascaria onde comemoramos mais um ano de vida do amigo. Encontramos Geraldo no meio do caminho e e fomos todos juntos ao restaurante. A mesa, com reserva para 15 pessoas, contava com a presença de 9 convidados.

Entre carnes de cupins e corações, pizzas superfinas, cerveja e muitas risadas, a figura principal da noite não foi Geraldo, e sim Manuela – a garçonete. Seria uma atendente qualquer, caso não fosse detentora de uma simpatia ascendente – tão ascendente, que em pouco tempo, praticamente servia apenas nossa mesa. Fez amizade com a mesma habilidade com que carregava as bandejas.

“Qual o signo de vocês?”, inqueriu. Cada um foi revelando o seu. Eu, o último a responder, afirmei ser ariano. Quase como uma criança afoita, quando recebe um presente novo dos pais, Manuela abriu o sorriso metalizado e me cumprimentou por também, como ela, ser regido pelo signo de Áries. “Toca aqui. Eu sabia. Fala sério, os arianos são demais”. Aquela situação foi uma espécie de estopim para a que emergente simpatia desse início a uma possível amizade.

"Aqui é pra você...”, retirou do bolso do uniforme azul claro um pirulito em formato de coração. “Só porque você é ariano”. Todos riram, no mesmo momento em que ela distribuiu outros doces a cada um. Em seguida, enquanto servia pizzas de calabreza, num minúsculo pedaço de papel me deu seus endereços virtuais. “Aqui estão o Orkut e MSN.”

Entre o trabalho e a vontade de bater papo com o grupo, a garota foi falando de sua vida: 22 anos de idade, ensino médio incompleto – mas garantiu retornar ainda este ano e continuar o 2ª ano –, há poucas semanas trabalhava na churrascaria e morava não muito distante dali. "Venho de bicicleta às vezes."

O expediente acabou. Enquanto os funcionários limpavam o salão, discutíamos com o gerente a diferença no valor da comanda da mesa. Manuela, depois de se livrar do uniforme, ficou nos aguardando. Saímos juntos, cada um pro seu curso. Manuela pegou carona à pé com o gerente, rumo a sua casa, e como que uma ordem, nos intimou à adicioná-la nas redes virtuais. “Me adiciona no MSN tá! No Orkut pareço outra até pessoa. Tô mais bonita!”, sorriu.

6 comentários:

Wadila de Alencar disse...

Ótimo texto!

Não é todo dia que encontramos pessoas "doidas" assim, que esbanjam simpatia, alegrando a vida de outras pessoas.

Curti muito o jeito da Manuela.

Luisa Pierson disse...

Ah Vagner... não deveria nem repetir, viu. Mas como sempre um ótimo texto! Muito agradável, bem estruturado e pontuado. Impossível não imaginar todas as cenas descritas por você, talvez não da forma que exatamente aconteceu, mas com uma perfeição tão grande que tem vida e realidade - ainda que na imaginação apenas.
Alías, AMEI o título do seu texto! Muito legal mesmo.
Parabéns!

Beijos.

Unknown disse...

Luisa, estava tão inspirado para escrever sobre a Manuela, que a crônica foi, sem dúvida, um grato presente. Conseguiu muito bem resumir e destacar a essência da jovem baiana. Fico feliz que tenha curtido e espero que continue acompanhando a série “Mulheres da Cavada”. Outras personagens interessantes ainda estão por vir.
Beijo.
Vagner

Unknown disse...

O texto que retrata o passeio de SSA tá ótimo, gostei muito...

Karol Coelho disse...

Vagner, baiano!
Eu virei sua fã, rapaz!

Só queria dizer isso.

Beijo.

Unknown disse...

Oi Karol,
Minha fã? Assim fico, encabulado : /
Seu carinho e amizade já são os maiores presentes

Beijo!