terça-feira, 28 de setembro de 2010

Será que cabe mais um?

“Gente, um passinho pro fundo, por gentileza!”
“Pessoal, vai girando a catraca aí!”
“Um passinho pra cima, senão a gente não sai!”
“Pessoal, vai passando aí pro corredor!”
“O fundo tá vazio, gente!”

vídeo Youtube

Para quem nunca teve o desconforto em transitar pela capital paulistana no sistema público de transporte, em especial nos micro-ônibus, talvez desconheça as expressões destacadas acima. Embora não seja difícil remetê-las à realidade do que é a locomoção em São Paulo para quem utiliza uma lotação.

“Tô numa lata de sardinha”. Antigamente, poderia até considerar válida essa metáfora. Consideremos que a latinha de alumínio, com aproximadamente quinze centímetros de comprimento, esmague o peixe no espaço limitado. Mas, considerar ‘enlatado’ dividir com mais de 60 pessoas o interior de um micro-ônibus, particularmente é ignorar o termo “injustiçado”.

No painel na parte interior do veículo é onde se costuma ficar a capacidade ideal de passageiros transportados. Aliás, costumava-se ficar, pois em muitas de tantas viagens diárias, um olhar mais atento fez-me perceber que, em muitos carros, não é mais informada a quantidade de pessoas que poderiam viajar em pé.

Nas lotações que não foram pintadas, ou deixaram em branco o dado, simbologicamente apresenta que são 13, aqueles que não teriam direito ao assento. Se é de fábrica a omissão, eis aqui outro questionamento.

Entre 20 a 25 pessoas sentadas. Cerca de 13, em pé. Uma soma de menos 50 cidadãos, que, de maneira ‘confortável’, poderiam locomover-se no interior da famosa lotação. Hoje, um dado descartável, meramente ilustrativo, pois “sempre cabe mais um”, ou espera-se que caiba.

O cobrador deixa explícita a intenção de sempre mais um subir um degrauzinho, e dessa maneira mais um passageiro é esmagado dentro do veículo.

Falta de educação, estresse, cansaço e demais predicações compartilham o mesmo espaço, o mesmo meio de transporte. Viajar em pé em horário de pico? Sempre cabe mais um. Um empurrãozinho aqui, outro acolá. No contexto atual nem mesmo os horários alternativos amenizam a superlotação. Conseguir com que alguém, caridosamente, segure a bolsa, sacola ou qualquer objeto que carregue consigo é também outra sorte.

Longe de mim generalizar, todavia como cidadão que vivencia empiricamente esse sistema, encontrar alguém solidário, que transporte a bagagem, enquanto você luta por um mísero apoio, batalhando trinta centímetros à sua frente para, ao menos, descansar o pé já fadigado pela inércia do percurso é raridade muitas vezes.

Em geral, locomover-se sentado na poltrona de um micro-ônibus é regalia àqueles que ficaram, certamente, dezenas de minutos à espera do privilégio de ir acomodado para casa, após filas quilométricas no terminal.

Será egoísmo não querer que o outro ‘aconchegue-se’ mais? Ou a solidariedade nos faz permitir que sempre caiba mais um, que é fácil subir mais um degrau quando se está quase que impossibilitado de se mexer?

Será simples, a passagem pela catraca como se pela frente não tivesse mais ninguém?
Será que cabe mais um, ou eu ou você somos mais um que não cabemos nessa realidade diária e árdua?

O homem que transforma sucata em arte

Um artista:
Antônio Ednaldo da Silva -
popularmente conhecido como "Berbela"

Um local:
Paraisópolis - segunda maior favela de São Paulo



"É na oficina alugada de dois cômodos, dentro de um estacionamento e mais treze casas, que o pernambucano Antônio Ednaldo da Silva transforma velharias em obras de arte. Tornou-se celebridade na comunidade onde vive e conta que até a Modonna não resistiu ao seu talento."

Quem é esse artista? De onde veio?

Cabelos castanho-escuros encaracolados, presos por um elástico. Pele morena. Rosto enfeitado com um bigode modesto sob os lábios carnudos. De camiseta azul. Calça jeans, já consumida pelo tempo de uso e sapato que mais parecia uma botina.
Similar a trajetória de milhares de nordestinos que vislumbram na capital paulistana, a esperança de um futuro melhor, a história de "Berbela", apelido do pernambucano Antônio Ednaldo da Silva, não é diferente. Natural de Pernambuco, desembarcou em São Paulo em 2001, mais precisamente em Paraisópolis, com a esposa e os quatro filhos.

A descoberta do dom

A habilidade com o aparelho de solda é de longa data, Berbela sempre trabalhou com esse serviço, mas a fabricação de obras de arte surgiu por acaso.

Tudo começou quando, em visita ao parque do Ibirapuera, o filho mais velho, de 13 anos na época, pediu ao pai uma bicicleta, igual as do parque. Um pedido caro para quem ganhava pouco. Mas como não podia comprar uma, o pernambucano pensou em personalizar a que tinha.

No dia seguinte, Berbela resolveu 'fazer', ou melhor dizendo, enfeitar a bicicleta simples do primogênito. “Não estava fazendo nada de serviço. Peguei a bicicleta que ele tinha e fiz do mesmo jeito da que ele viu lá. Cortei no meio. Arrumei uns canos d'água. Emendei e fiz uma bem grandona como ele queria”, revelou o artista, que naquele momento autodescobria seu talento.

Ao chegar da escola, o filho não se conteve com a "velha" bicicleta, que havia sido completamente transformada, e até batizada: “Berbela”. Registro esse, que não ficou restrito ao veículo. A partir daquele momento, todos passaram a chamar Antônio Ednaldo da Silva com o mesmo nome de sua primeira criação. “Eu vi esse nome lá no Pernambuco e achei bonito”, revelou. Aos poucos, a bicicleta passou a ganhar inúmeros adereços. O primeiro item foi um motor. O que era bicicleta tornou-se um "triciclo", composto ainda por dez cornetas, uma televisão, um ventilador, um rádio e quase duas mil lâmpadas coloridas.

A criação das "motobicicletas"...

Em 2002, com a Copa do Mundo, o veículo recebeu os tons verde e amarelo. Ela é utilizada por ele para passear, ir ao shopping com a família. “Eu saio com a Berbela mais pra passear, pra ir ao shopping, pois tem lugar pra pôr os meninos e cestas pra colocar as compras”, conta. Das quatorze bicicletas criadas por ele (incluindo as miniaturas), três delas são motorizadas.

Em 2006 'nasceu' a Berbelinha, declaradamente considerada por ele, a xodó. E não é para menos, a ornamentação da "magrela" - que convenhamos, não é mais magrela mesmo, pelo menos nas mãos de Berbela - espanta qualquer um que se tem uma concepção formal do que seja uma bicicleta: são mais de duas mil lâmpadas coloridas, três telas de DVD e um rádio, ligados por uma bateria presa ao veículo, possui alarme de segurança, sirene, e ainda uma caixinha exclusiva para armazenagem dos controles-remotos e ferramentas.

E claro, as cores verde e amarelo predominam no veículo com três bandeiras brasileiras hasteadas em homenagem à Copa Mundial, realizada naquele ano. “Tem tudo nela. O que você pensar tem”, reforça ele.

Outras obras de artes (até vocalistas da banda Calypso)

Velas de carro, parafusos, escapamentos de moto, rodas. diversas... Tudo em suas mãos é transformado em arte: baratas gigantes, escorpiões, lacraias, centopeias, abelhas. Há bichos feitos de lata, soltos pela oficina do artista, expostos pelo chão e paredes. Até artistas da música popular caíram nas graças do artista. As esculturas de Joelma e Chimbinha ficam lado a lado, bem em frente a oficina. “Eu fiz primeiro o Chimbinha. O povo ficou insistindo até que fiz a Joelma também. Ela ficou um pouco descabelada, mas tudo bem”.

O amor de Ednaldo ao que faz ultrapassa o que se chama de racionalidade. para muitos. É mais do que um mero ofício. Os olhos do nordestino entregam a paixão que sente ao que faz. “Às vezes eu tô aqui e até falo com os bichos. Eu não tenho estresse. Eu lavo eles. Dou banho. Faço pintura pra não eles enferrujarem. É assim, eu não gosto de ver minhas coisas maltratadas".

Obras de artes X Casamento

Casado há quase 22 anos, ele relembra que no início da fabricação das obras, a esposa não o apoiou. “No começo ela achava estranho. Me chamava até de abestalhado, de doido". Mas engana-se quem acredita que Ednaldo tenha feito faculdade ou até mesmo um simples curso em artes plásticas: “Nem meu nome eu sei assinar direito. Eu não quero estudar não. Nunca gostei”.

HIstórias bizarras...

Ele conta que o único acidente que sofreu aconteceu quando uma das duas rodas do veículo se soltou ao viajar a 100km/h e, ao invés de ajudá-lo, um motorista parou o carro para tirar fotos do ocorrido.
Outro caso interessante aconteceu há 7 anos, quando uma viatura de polícia o abordou pedindo os seus documentos e os da bicicleta motorizada."Eu disse aos PMs que só tinha o RG, que havia tirado há poucos dias. O policial perguntou o era aquilo [a bicicleta]. Ligaram o ventilador. Ficaram olhando... Pediram desculpa e perguntaram se podiam tirar foto”, relembrou o caso.

Madonna quis conhecê-lo

Em Paraisópolis, ele já se tornou figura popular. Adquiriu os quinze minutos de fama ao participar de vários programas de televisão. E ainda confessa que até a rainha do pop não resistiu ao seu talento, quando ela apresentou-se em SP na última turnê: “A Madonna mesmo queria me ver no estádio do Morumbi, mas estava chovendo e eu não pude ir".

Dificuldades

Embora a felicidade estampada através do sorriso tímido, ao falar de sua vida , ele lamenta não ter um local adequado para guardar e fabricar novas peças: “Eu tô meio triste porque tô vendo a hora de vender isso aqui e não ter onde trabalhar”.
Atualmente o que garante o sustento da casa é a renda da esposa e dos filhos que trabalham. Ele afirma que o que ganha com os trabalhos de soldagem consegue apenas quitar as contas do aluguel da oficina, água e luz.

O pernambucano sonhador

“Enquanto vida eu tiver, quanto mais pra frente... Mais vontade eu tenho de fazer mais coisas. Só Deus pra me empatar. Eu ia fazer coisas inacreditáveis. Algo pra ficar na história de São Paulo”.

Qual é o seu rock?

Você já parou para numerar quantos estilos diferentes de rock existem?
Não? Então é melhor parar um pouquinho, se quiser realmente saber...
Pois já vou adiantando: tem estilos pra caramba!

Ao longo dos anos, o rock tem admitido muitas influências de outros estilos, de maneira a demarcar outras variações do movimento, e claro, outras tribos.
Aqui será conhecida a tribo de Evandro Aparecido Wenceslau Oliveira, ou melhor dizendo, do "Cavera", pois essa é a alcunha do jovem roqueiro.

Enraizado nos Estados Unidos, nos idos da década de 1970, Punk rock é um movimento musical e cultural, que tem como filosofia o "faça-você-mesmo". Conhecido por viver da sua própria forma sem que ninguém ou nada possa impedir, o punk é composto por músicas simples, rápidas e agressivas, o estilo aborda ideias ligadas aos problemas sociais e políticos, guerra, violência. Além de relacionamentos, diversão, sexo, drogas e temas do cotidiano.

Meu estilo Punk Rock

Evandro, o Cavera
Ele tem 19 anos, e desde os 12 adere ao estilo Punk rock, que tem as roupas pretas como marca. Sempre com jaquetas de couro e vários acessórios nas vestimentas, "Cavera " expressa seu estilo música e vida.

E não para por aí... Ainda com 6 piercings e 7 tatoos e cabelo à la moicano, o jovem afirma sua paixão pelo punk e se considera um típico amante do rock.

Munido com seu inseparável violão, quando não está com um skate nos pés, é nas horas vagas, que junto com os amigos, ele compõe e troca ideia com os "manos". Para ele, os pertencentes a essa tribo não podem ter medo e devem sempre ser movidos pelo instinto de novas aventuras."Somos conhecidos por viver fazendo loucuras", afirma.

Em virtude do amor à música, ele revela sua identificação pela poluição sonora. Há 3 meses montou a banda Riff's Cortantes, inspirada em grupos do gênero nacional, como Raimundos, Garotos Podres e até nos

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Vigilantes do Tráfico




















Eles são jovens.
Adolescentes
que sequer beiram a maioridade.
E de forma prematura, encontram-se no “mercado de trabalho”.
Eles são Vigilantes.
Vigilantes do Tráfico


A noite não é o sinônimo do prepúcio da vigília. O trabalho começa bem cedo, o sol mal se pôs e os vigilantes já estão a postos, independentemente de como o tempo esteja, seguindo como estabelece os direitos trabalhistas: oito horas de serviço + remuneração - só não lhes é fornecido o vale transporte ou alimentação, pois as residências dos "trabalhadores do crime" ficam na rua debaixo.

A empresa para qual eles exercem o ofício chama-se “Biqueira*” - a quem conheça pela alcunha de Boca de Fumo, apelidada de "Boca". Cada vigilante assume a porteira de uma das muitas vielas que cruzam os arredores onde o comércio funciona. Entre um córrego divido pela extremidade de uma e outra ruela, compartilhando espaço com ratos e dejetos das mais variadas espécies, os jovens vigilantes embalados ao som do estilo musical preferido, com as canções de rap, "viajam" e demarcam as histórias narradas em letras que retratam a realidade de ídolos do tráfico.

Os mesmos ouvidos afiados que apreciam a batida das músicas quase que autobiográficas são aqueles que atem-se a qualquer ruído estranho, diferente... de sirene. "É a polícia?!" Os olhos vivos dos vigilantes se esbugalham, assim que algo que fuja à normalidade é percebido.

Durante a vigília permanente, há aqueles que aderem à utilização dum banquinho convencional, embora haja quem opte por uma caixa de madeira utilizada para armazenar frutas e verduras para o descanso no decorrer de suas tarefas diárias, afinal de contas, repousar as pernas é indispensável quando, em muitos casos, delas se exige disposição para driblar, sob o breu das lâmpadas propositalmente danificadas pelos próprios vigilantes, os becos e vielas estreitas quando é necessário retirar-se em debandada para acionar que a polícia chegou na quebrada. Outros não se preocupam em manter-se em pé ao longo das horas correntes, pois o hábito há muito tornou-se rotineiro.

Não há gênero específico para tornar-se um vigilante. Ora ou outra é possível notar a presença de meninas desempenhando esse "serviço" - como vigilantes ou acompanhante do namorado, parente, amigo...

Àquelas em que a vaidade ficou apenas em revistas ou na televisão, as vigilantes do tráfico não se preocupam com modismos na hora em que de fato a "atividade" é realizada. Na cintura modelada, pochetes penduradas encontram-se abarrotadas de cápsulas e derivados de entorpecentes, além do dinheiro rendido por elas ao longo da labuta.

Pelo ar, seja dia ou noite, tampouco importa aos vigilantes, quando o vício fala mais alto nada cala e impede a "Boca de Fumo". A fumaça que se desmancha através da queima de cigarros e outras drogas ilícitas, demarcam o cenário de onde o "comércio" é realizado. Aquele que vigia é o mesmo que compra, e consequentemente o que também é usuário. São as drogas. É o tráfico.

Ali entre os estornos do esgoto à céu aberto os negócios são realizados. A compra e venda se estendem. Dinheiro. Baseados. Consumo de drogas. E claro, a vigília constante. Os "rendimentos" são efetivados. A partilha dos rendimentos, efetuada.

É madrugada afora que as drogas fortemente infestam o ambiente. É possível senti-la a metros de distância da "Boca", bem como dos pontos de permanente vigília. Na escuridão das ruelas, a única claridade que se observa é dos cigarros acessos, após o direcionamento de isqueiros e fósforos aos baseados habilidosamente equilibrados entre os dedos.

Diálogos, permeados por expressões do vocabulário próprio dos vigilantes, é, em muitas vezes, notado por agressões orais, quando, decerto, brigas e xingamentos mais concretos são regados pelo consumo ativo de álcool, e assim a treta acontece. "Se liga, maluco!"

Eles são jovens. Meninos e meninas, de 14, 15, 16 anos... Trocaram a escola que deveriam estar propriamente, pelo tráfico. Iniciaram prematuramente uma nova profissão: a de Vigilantes do tráfico.