sábado, 29 de setembro de 2012

Minha colação foi você



















Bexigas e confetes renderam o céu do auditório Rui Barbosa no momento em que o derradeiro canudo foi entregue. Fui o então penúltimo ex-estudante a recebê-lo.
Colegas se abraçaram, declamaram milhares de parabéns!.

A colação de grau enlaça uma trajetória de quatro anos em que a segunda casa chama-se faculdade. É, senão, o último encontro entre colegas – ou o primeiro –, afinal, muitos deles se beijam ou se abraçam pela primeira vez.

Aquela foi uma quinta-feira abarrotada de cumprimentos e alegrias.
E de todas as sensações, a maior delas aconteceu justamente depois.

Para uns, era o alívio de bradar-se formados.
Para outros, a preocupação em ter de encarar um mundo fora da barra da saia da mãe. E para mim?
A alegria de rever meu pai após um ano e dois meses ou chorar ao ver meus irmãos orgulhosos?
Ambos.
Eles teriam sido os protagonistas desta crônica, caso eu não tivesse conhecido você naquela noite.

A minha colação foi você.
Sem auditório.
Sem balões.
Apenas com beijos que poderiam começar e terminar em uma noite qualquer, mas que se estendem há 45 dias.
Se vão durar o tempo de um curso livre ou de uma pós-graduação... Para que prever o futuro, não é mesmo?

Era um simples brinde com o melhor amigo...
Até que dois olhares totalmente alheios e estranhos se cruzam.
E a noite, que estava mais próxima da despedida do que da chegada, simplesmente começa... regada a beijos alcoólicos e olhares mútuos.

Minha colação foi você.
Você que tem me encantado com gestos tímidos e brincadeiras descaradas.
Com mensagens de saudade e a saudade despontada entre bofetadas.
Com a deliciosa penitência diária de dizer bons dias e boas noites.

Entre as noites que estão por vir, se algum dia eu esquecer a data de minha colação, eu também terei me esquecido do dia em que te conheci.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Como aos 15 anos

Escrevi várias linhas, mas apaguei todas. Elenquei -- até com riminha e tudo -- algumas palavras do tipo Reunião, Cervejão, Declaração, Atração, Tesão. Em seguida, me comparei até com as tolas virgenzinhas, ou melhor, com as ex-virgenzinhas apaixonadas, depois da primeira trepada. Mas tudo foi em vão.

 Hoje, tentei investigar a razão desta sensação dominical totalmente estranha, que me perturbou durante todo o dia. Percebi seus sintomas há uns 10 anos, no tempo em que eu escrevia para uma menina com nome de flor [Rosa, de Roselí], versos e declarações apaixonadas nas folhas que sobravam do caderno de 20 "matérias" que levava para a escola. Agora, ei-me aqui, escrevendo novos versos, para alguém que conheci há 2 anos.

Na página de Word, onde deleto e escrevo, escrevo e deleto, noto que – literalmente – para valer, o esbarro aconteceu apenas na noite passada. Me sinto como aos 15 anos, tentando entender algo do tipo: “tô pensando em você além da conta ou tô é endoidando?”.



Vejo suas fotos no Facebook. Leio suas crônicas. Mas para quê, se eu já te conhecia antes? Não dá pra negar então que a primeira alternativa é a que mais cabe. Uma madrugada de sábado regada a Skol, amigos, elogios e, depois, revelações.

O cenário: uma lanchonete de beira de esquina da Praça da República. E agora, um dia depois, ao som melódico das letras pé-na-bunda de Adele (que eu já não escutava há tempos), me encontro no 5º parágrafo, escrevendo coisas que podem ser babacas e piegas.

 Eu poderia dizer “Eu não sei por que eu estou assustado, já senti isso antes. Cada sentimento, cada palavra. Já imaginava tudo. Você nunca vai saber se não tentar.” Mas sei que diria: "Popará. Aí também já é demais. Nem é pra tanto". E eu assinaria embaixo.

Mas, na verdade, este é um trecho, que tem lá suas "parença", com esse tal sentimento estranho. E, coincidentemente ou não, estes são os trechos de One and Only. Sem o som de Adele, é do barulho dos clientes à espera de seus hambúrgueres, que seguimos nossos discursos e assumimos nossa vida além dos blogs.

Encosta-se na parede. Enquanto apenas fito-lhe como se, de fato, estivéssemos nos conhecendo verdadeiramente a partir daquele momento:

- Tem Skol?
- Só latão.
- Manda dois.
- Posso te falar uma coisa?
- Pode.
- Eu quero te beijar.

É um querer e uma esquiva. Não do meu corpo apenas, mas da amizade, que há poucas horas não passava de histórias de vida análogas.

Prosseguimos, além da similaridade de nossas trajetórias. Sabemos que não apenas escrevemos bem. Eu ouço-lhe, ao mesmo tempo em que encaro-lhe com força -- como uma transa selvagem. Meus olhos continuam na mesma mira, incansavelmente.

Minhas mãos se apoiam em seus ombros, simultaneamente, desejando e autoapartando o resto do meu corpo do seu corpo. É uma relação paradoxal. Abraçamo-nos, sem querer querendo -- mas eu estou querendo.

Em dois anos, seu aperto de mão, ou no máximo um abraço tímido, foram os únicos contatos físicos... Até eu sentir, enquanto me segura, sua boca se encostar ao meu pescoço por meio de beijos. E, na despedida, um beijo desajeitado.

Tô parecendo como aos 15 anos, embora saiba que já se passou uma década. Mas foda-se se eu tô bancando papel de bobo ao recordar uma noite que pode ser esquecida como um livro e um bloco de anotações. Cheguei a esses 3.407 caracteres, a1h52, pra dizer que “fiquei com sua revelação na cabeça. E depois dela você”.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Roda-gigante

Um assento com dois lugares então ocupados por uma dupla de corpos esquálidos. O meu e o dela. Uma barra de ferro à nossa frente a nos proteger, quando na verdade o perigo maior era meu coração dar um peripaque lá no alto. A altitude nem era tanta. Grande mesmo a era emoção de ver tudo lá de cima. Não que houvesse muita coisa para se ver: a miudeza da cidadezinha e a imensidão de mato ao seu redor. Grande mesmo era a emoção de ver tudo lá de cima: a miudeza da cidadezinha, a imensidão de mato e a minha mão sobre a mão dela e tudo nosso redor.



Um parque de diversões tão pequeno para o espaço em que fora instalado. Carrinhos bate-bates, sombrinha, balsa e a roda-gigante. Gigante era sempre a vontade trocar a companhia de um primo pela de uma paixonite para passear no brinquedo símbolo de um romantismo juvenil.

Quantas rodadas do raso ou topo, meu coração adolescente iria, literalmente, às alturas? Uma roda-gigante e dois corpos esquálidos de 17 e 16 anos. Um frio na barriga a medida que a assento balançava. Em seguida, uma batedeira no coração, conforme eu e ela enxergávamos a miudeza da cidade, o mato ao nosso redor e eu com minha sobre sobre a dela.

Então em solo firme, e a mesma miudeza da cidade e a imensidão do mato ao nosso redor. Nossas mãos se apartam a caminho de outras. Sigo com as de minha então namorada. Ela com o seu. Sem roda-gigante. Sem emoção. Somente com a miudeza da cidade e o mato ao nosso redor.