quinta-feira, 28 de junho de 2012

Quando você é a notícia II


Estudantes revelam peculiaridades da vida na segunda maior favela de São Paulo



Bruna Belazi, Denise Paiero e Vagner de Alencar, no dia da apresentação do livro-reportagem. Trabalho recebeu nota dez da banca.
Desconstruir uma visão cheia de preconceitos e mostrar as peculiaridades dos moradores de Paraisópolis, a segunda maior favela de São Paulo, com 100 mil habitantes.
Este foi o objetivo de Vagner de Alencar, 25 anos, e Bruna Belazi, 22 anos, recém-formados em jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. “A cidade do Paraíso – Há vida na segunda maior favela de São Paulo” é um livro-reportagem escrito pelos estudantes e apresentado como trabalho de conclusão de curso.
Em entrevista ao Portal Aprendiz, Vagner, que é morador de Paraisópolis, falou sobre sua relação com a comunidade e o interesse por mostrar como é a vida no local. Incomodado com o olhar estereotipado com que, comumente, a periferia é retratada, o jovem elegeu alguns moradores como personagens e debruçou-se sobre suas vidas.
“O senso comum trata a periferia apenas pelo recorte da violência, do tráfico e da miséria. Quem não mora nela ou não tem o olhar viciado pelo que passa na TV, sabe que a favela vai muito além disso. A favela está ligada à identidade de seus moradores, o que é bem representado pelos personagens do livro.”
Portal Aprendiz – Como começa sua relação com Paraisópolis?
Vagner de Alencar - Nasci na Bahia e vim para São Paulo aos três anos, com sete voltei para o lugar de origem e depois, aos nove, retornei para São Paulo por que minha mãe estava doente e aqui as opções de tratamento eram melhores. A referência de lugar para morar era uma favela na região do Brooklin, que justamente nesse período tinha sido removida. Os moradores de lá acabaram migrando para Paraisópolis. Foi assim que cheguei lá.
Aprendiz – Como surgiu o seu interesse em escrever sobre a comunidade?
Alencar - Na minha adolescência fiquei mais três anos na Bahia, quando voltei à Paraisópolis a transformação havia sido muito evidente. O comércio tinha crescido, o número de casas era maior, e elas estavam bem mais estruturadas. Foi aí que veio o pontapé para eu querer mostrar como é a vida na periferia por trás dos olhos estereotipados da grande mídia.
Aprendiz – Quando você começa a usar os meios de comunicação para falar de Paraisópolis?
Alencar - Uma vez eu estava em um salão de cabelereiro quando vi o jornal comunitário, o Paraisópolis News. Achei que seria uma boa oportunidade para colaborar. No início, as pautas eram um pouco “bestinhas”, até por que eu havia acabado de entrar no jornalismo. A coisa engrenou mesmo quando eu entrei para o Blog Mural da Folha.com. A partir daí veio a possibilidade de falar da periferia dando maior visibilidade para os personagens locais.
Aprendiz – Qual a importância de produzir conhecimento sobre a periferia?
Alencar – Infelizmente a periferia ainda, aos olhos de muitos, é vista como um lugar às margens da sociedade, sempre ali nas beiradas. Quando, na verdade, ela é parte fundamental dentro de qualquer contexto social. A cidade é um organismo vivo, é preciso conhecer a periferia para entender como ela funciona.
Aprendiz – Como a periferia é retratada pela maioria das pessoas?

Aposentado construiu uma casa com mais de 20 mil garrafas PET em Paraisópolis.
Alencar – O senso comum trata a periferia apenas pelo recorte da violência, do tráfico e da miséria. Quem não mora nela ou não tem o olhar viciado pelo que passa na TV, sabe que a favela vai muito além disso. O que observo como morador e protagonista da periferia, é que a favela está ligada à identidade de seus moradores, o que é bem representado pelos personagens do livro. A periferia luta para mostrar seu valor e sua identidade.
Aprendiz – Por que você optou por contar histórias de pessoas para falar sobre Paraisópolis?
Alencar – Conhecer a história do outro colabora para descobrir onde podemos chegar. Sempre parti da premissa de que “se você pode, por que eu não posso?”. Imagine uma criança, estudante de Paraisópolis, que tenha gosto pela leitura e escrita, mas acha que por viver ali não pode um dia escrever um livro. Daí ela conhece a Jussara, escritora da comunidade em que vive. Ou então um aposentado, que usa marca-passo no coração e se sente impotente, mas descobre que existe outra pessoa com os mesmos problemas de saúde que construiu uma casa com mais de 20 mil garrafas PET e que seu talento já virou notícia na grande mídia. Essas histórias servem de estímulo, fazem com que as pessoas acreditem em si mesmas, permite que elas transformem a sua própria realidade.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Quando você é a notícia I


Blogueiro escreve livro sobre cotidiano de Paraisópolis

Por Mayara Penina

O livro-reportagem “A Cidade do Paraíso – Há vida na segunda maior favela de São Paulo” é o resultado de quatro anos do curso de jornalismo do correspondente do Mural Vagner de Alencar, 25. Ele defendeu ontem na Universidade Presbiteriana Mackenzie seu TCC (trabalho de conclusão de curso) e obteve nota máxima.

Produzido em parceria com Bruna Belazi, 22, o livro retrata o cotidiano de Paraisópolis, localizada na zona sul e registrada como a segunda maior favela da capital paulista, com cerca de cem mil moradores.

O livro usa como fio condutor para contar as histórias dos personagens os becos e as vielas do bairro –algumas delas já haviam sido contadas aqui, como o mistério da mina e a multiplicação dos salões de beleza  na região.

“O objetivo desse livro é trazer à tona a alma da gente que vive em Paraisópolis, que, muitas vezes, ainda é tratada de forma estereotipada e cheia de preconceitos”, afirmou o blogueiro.




O livro destaca, sobretudo, a rotina de donas de casa, donos de salões de beleza, artistas _ como o “arquiteto de garrafa PET”, a escritora de Jussara e “o homem que transforma sucata em arte”_, além de abordar outros aspectos culturais, como “a festa na laje” ou o “forró, o luxo do pobre”. Ao todo são 30 capítulos distribuídos em 118 páginas, que foram elaborados sob a orientação da professora de jornalismo Denise Paiero.

Para o professor Fernando Morais, que participou da banca de avaliação do TCC, os autores conseguiram sair do lugar comum, conduzindo a narrativa sem olhar maniqueísta de pena ou de rancor. “Esse livro foi feito na medida certa”, disse. “Merece ser publicado.” Na rede social Facebook, o sucesso já começou: a capa do livro-reportagem foi compartilhada mais de 130 vezes.
A relação de Vagner com Paraisópolis começou em 1995, quando ele e sua família deixaram a cidade natal, Barra do Choça (BA), para se mudar para a comunidade. No ano passado, ele foi um dos vencedores do 3º Prêmio Jovem Jornalista, do Instituto Vladimir Herzog, ao escrever um projeto de reportagem sobre o cenário da educação em Paraisópolis.

Os parceiros no TCC Bruna Belazi, 22, e Vagner de Alencar, 25

Mayara Penina, 21, é também correspondente de Paraisópolis.
@emayara
mayarapenina.mural@gmail.com