quarta-feira, 23 de março de 2011

A Rosa e o Cravo

Roseli e eu - jan/2008
Primavera de 2006 - Autenticidade explodia de Roseli. Ela sempre foi o tipo de menina que conquistava os rapazes com uma única palavra, ao menos foi assim que aconteceu comigo. Magricela, rosto afinalado, pernas e braços mais ainda, seus cabelos naturalmente tinham um liso cacheado. A voz era inconfundível: um estridente abaianado. Um sorriso meio que de canto e um encanto explícito numa personalidade singular.

Roseli nunca acreditou em santos, embora os tivessem no nome. Diferentemente das irmãs “certinhas”, ela parecia receber o título de "ovelha-cinza" da família, mesmo que nunca tivesse chegado a ser uma jovem radical. Não tinha papas na língua, e tampouco, não economizava palavras, estocadas no vocabulário bem estruturado.

Roseli foi uma das pessoas mais inteligentes que conheci. Autêntica, mostrava-se sempre à dianteira das meninas de sua idade. Teve poucos namorados, mas não lhe faltaram dezenas de pretendentes. Aos 15 anos parecia um patinho feio, desajeitada. O cisne bateu asas e mostrou quem era, assim que apontou à maioridade. Nessa idade, pela primeira vez, deu luzes aos cabelos sempre castanhos. Ela estava linda.

Desconheço alguém que a chame de Roseli – exceto eu, claro. Nunca consegui chamar pelo apelido as pessoas que logo se apresentam pelo nome de batismo. Roseli sempre foi Rosa. É Rosa aqui, Rosa acolá. Não sei o que ela achava de minha formalidade, porém garanto que em nenhum momento, mesmo nas cartas que trocávamos, referi a ela pelo nome de flor. Minto. Uma vez escrevi um poeminha:

Rosa dos jardins
Rosa de todas as cores
Rosa vermelha. Rosa branca.
Rosa que nos encanta e nos enche de amores
[...]
Você não é uma rosa qualquer.
Você é a rosa com vida.
Você é a rosa colhida.
Você é a Rosa mulher

Talvez eu fosse o cravo. Ela inegavelmente era a rosa. Roseli foi a mulher que mais amei - talvez a única, senão a mais importante delas. Desses amores bem doídos que surgem na adolescência e perduram por anos. Éramos tão parecidos que até o primeiro beijo que demos seguiu o mesmo compasso. Numa garagem sem carro, com roupas estendidas num varal, sentimos o sabor de nossos lábios finos. Toquei sua cintura modelada. Coloquei a mão no seu peito que batia sem controle; temíamos que a dona da casa descobrisse aquela invasão e interrompesse o momento. Matamos aquela aula e ressuscitamos uma paixão adormecida há algum tempo.


Primavera de 2010 - Nossos braços se encontraram, até nossos corpos, ainda com a mesma esqualidez, dar-se um abraço tímido e um beijo contido. O perfume dela permanecia inalterável. Estávamos iguais – na magreza e personalidade. Ela, com o sorriso largo e a silhueta fina, que tanto me encantava no tempo do ensino médio.

Para ela, eu continuava ainda com a aparência do mesmo peso, embora menos da metade de uma dezena de quilos já não compunha mais meu físico. “Tu não mudou nada”, exclamou. “Se menos 5 quilos não são aparentáveis, fico feliz. Aumentou minha autoestima”, retruquei.

Adentramos a saleta de uma secretaria onde ela trabalha. Vestia a velha blusa de frio, cor creme. A calça jeans, justa, modelava as pernas. Observamo-nos a atentamente. Ela estava casada. A aliança grossa, em relevo, agora na mão esquerda, indicava o matrimônio recente.

O tempo passou. Ela não era mais a menina que sonhei andar de dedos entrecruzados. A mulher em que não me hesitaria de trocar carícias públicas, de suplicar declarações, ou manifestações toscas de amor. “Não acredito que estou casada”, ela disse. Silenciosamente, completei um "nem eu". Almoçamos juntos aquele dia. Estivemos juntos noutros. Mas a partir de agora não continuaremos mais juntos (apenas nas lembanças de um passado, ainda presente). Ela continua linda e especial, a Rosa que o tempo não modificou o aroma. Mas a flor que parace ter sido colhida do meu jardim.

Se sentirei o perfume de hortênsias, margaridas e violetas... Não sei. Murcha, ela jamais ficará. Viveremos apenas outras primaveras. Viverei a saudade, de quando o compromisso não nos impedia de absolutamente nada. Fará-me falta a flor mais linda do jardim da minha vida.

3 comentários:

pamellaindaia disse...

Emoção. É isso que você passa em cada palavra desse belo texto.
Confesso que esperava um final diferente para essa história.
Sorte e amor, sempre!

PS: Gostei da cara nova do seu blog. Ficou lindo!

Tiêgo R. Alencar disse...

Ai, que lindos vocês dois! Mesmo que o final não tenha sido tão feliz quanto eu esperava, a história em si foi sensacional! Muito bom!

Um beijo :*

Karol Coelho disse...

Uma lágrima pelo menos eu derramei, viu?
Ai, mulheres e seus dias sensíveis. rs
Lindo!