Iraci não era cantora, mas não se cansava de improvisar repentes, principalmente no compasso em que tentava ludibriar os clientes dos bares em que se metia a pedir mais uma dose de cachaça. Figura mais icônica que essa mulher, nunca se soube pelos arredores dos povoados circunvizinhos ao da Cavada.
Com o preço do valor de um copo de pinga, sempre na ponta da língua, Iraci ignorava outro número: a sua própria idade. Os habitantes mais antigos da região, que lembram de Iraci quando moça calculam que a mulher mais famosa esteja beirando os 70.
Há anos, para não dizer décadas, Iraci deu sumiço em seu RG, por isso nunca desfrutou o dinheiro que poderia usufruir com o benefício da aposentadoria. Teve três filhos homens. Todos caíram no mundo. Dois se bandearam para São Paulo, enquanto o caçula continua por lá, onde, hora ou outra, visita a mãe.
Iraci é amasiada com Zé Bufão. Tão irreverente quanto a companheira, o baiano não dispensa uma pinga. Juntos, pareceram ter nascido um para o outro: no vício ao álcool e à companhia inseparável.
Iraci quase sempre perde as estribeiras, quando o efeito da cachaça lhe soube à cabeça. Dispara palavrões e pragas àqueles que não foram complacentes para com ela; àqueles que não lhe deram uma nica ou não lhe pagaram uma "branquinha".
Depois que conseguiu casa própria, obtida pela Prefeitura, uma luz surgiu em seu caminho: a luz elétrica. Doze meses depois de aposentar o candeeiro, ressuscitou o utensílio por não pagar a dúzia de talões à Coelba (Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia). A casa ficou ainda mais turva por causa da fumaça do fogão a lenha, sem chaminé.
Presença garantida nos forrós, Iraci deixava sua marca por meio dos passos desengonçados que agitavam as festas na região. Muitas foram as vezes em que ela aparecia com os cabelos coloridos. Tons brancos e amarelados criavam uma coloração típica de uma tintura que, de fato, não havia dado certo. Miúda, Iraci não passava de 1, 60 m. Sem recato, não fazia a mínima questão de encobrir suas pernas cheia de varizes finas. Gostava de saias e blusinhas curtas. Nos pés calejados, o par de havaianas era seu calçado mais duradouro.
Imagens: Iraci - janeiro de 2011 (Povoado Cavada II (BA)
Um comentário:
kkkkkk Lembranças!
Até bateu uma saudade de Iraci, hehehe Ela é uma mulher tão inesquecível, que até hoje aqui em São Paulo, me lembro dela e apelidei minha amiga Jessica de Iraci, quando ela bebe d+ kkk
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