O futuro sempre assustou a mim que tive de aprender a
administrar precocemente meu efusivo idealismo. Aos 13, meu sonho maior era ir
ao Mc’Donalds. Estar perto do playground, dono do título de "instigador infantil" - ele, que a cada
encontro com a lanchonete requintada, me trazia também um doce tormento por não poder deslizar adentro daqueles
enormes tubos cilíndricos. Aos 8, não me saía da cabeça a
ideia de devorar Sucrilhos Kellogs, suplantado logicamente pela cultura de massa, que longe de saber o que isso significava, entusiasmava ferozmente meus desejos juvenis.
Nessa idade, a decepção fora amarga aos insípidos flocos de milho do amarronzado Elefante - animal que habitava meus pensamentos mais serenos. Nenhuma distinção me teve o Mc Lanche Feliz; depois de conquistar a proeza de angariar 8 reais em moedas de 50 centavos, na época, garanti e simultaneamente também me decepcionei com os três hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles e um pão com gergelim. Embora menino, percebia a valia do que significava investir, e aquele não havia sido um bom investimento. “É um lanche qualquer”, pensei, decepcionado. E era. Só voltei a freqüentar um Mc’Donalds muitos e muitos anos mais tarde.
Nessa idade, a decepção fora amarga aos insípidos flocos de milho do amarronzado Elefante - animal que habitava meus pensamentos mais serenos. Nenhuma distinção me teve o Mc Lanche Feliz; depois de conquistar a proeza de angariar 8 reais em moedas de 50 centavos, na época, garanti e simultaneamente também me decepcionei com os três hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles e um pão com gergelim. Embora menino, percebia a valia do que significava investir, e aquele não havia sido um bom investimento. “É um lanche qualquer”, pensei, decepcionado. E era. Só voltei a freqüentar um Mc’Donalds muitos e muitos anos mais tarde.
O futuro sempre me foi temerário pela aflição de trilhar o
mesmo destino ao qual pareceu estar fadada a minha família. O verbo “limitar”
nos esteve tão presente que precisei pelejar o quanto possível fosse para
apartá-lo para o mais distante. E a priori consegui – ou melhor dizendo, “tenho
conseguido”.
Precisei tornar-me autossuficiente para perceber que poderia
galgar voos mais elevados. Morar na favela, por exemplo, me era uma realidade
transparente, embora ainda moleque sabia que aquela nos era talvez uma situação
imposta por não fazermos parte de uma fatia da população desprovida de um
ordenado mensal mais polpudo.
Pai pedreiro e faz-tudo; mãe dona-de-casa. Família composta
por sete membros. Um cenário educacional que não ultrapassava a 3ª série do
ensino fundamental – fora esse o limite da matriarca. Meu pai não passara da 1ª
série; sabia rubricar seu nome em letras tortas, porém legíveis.
Acredito que meus pais soubessem o valor da educação, mas
nunca tiveram uma inabalável firmeza para saudá-la como o norte para a evolução
da família. Não os culpo, afinal, esse era um cenário não puderam se habituar.
Tiveram que abdicar da escola para tornar-se íntimos da enxada. Se por algum
momento da minha vida eu me opusesse aos estudos, eles não se ruiriam contra
meu desejo, porém não desbravariam meu cérebro a fim de me apresentar os benefícios
que o verbo estudar angariaria ao
vocabulário chamado destino.
Era eu quem investia a minha mãe para encaminhar-se rumo às reuniões escolares; lugar este que meu pai nunca pisou seus pés. Não que fosse desmazelo por parte dela, que embora, sem inspeção, não duvidava de minha aplicação nos estudos. À espera de seu regresso da escola, eu ficava no esmero ao aguardo dos elogios certeiros trazidos por ela.
O futuro me trazia agonia quando ele mostrava-se cada vez mais traiçoeiro. Como driblar uma doença, uma vez que a família indispunha minimante de vigor para afrontar qualquer inimigo? Éramos católicos – de longe não praticantes. Minha mãe expunha no topo da estante a Nossa Senhora da Aparecida de plástico, e à padroeira guardava uma nada explícita fé.
O futuro a mim poderia ser o rumo mais instigante a alcançar. Poderia eu sem o entusiasmo de meus familiares agarrar um diploma de nível superior? Poderia eu embarcar a outros trajetos que não se fragmentassem ao fluxo Bahia-São Paulo? Poderia eu representar aos meus o espelho de um reflexo ao qual todos - e qualquer um - poderiam acatar?
A resposta é tão clara quanto a existência desse blog e a esperança de um caminho com um jardim florido de novas e belas crônicas das histórias da vida árdua e real.
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