Depois do almoço, Zé prepara o
alimento aos seus quatro cachorros. Diamante é um membro da matilha: o seu cão-panheiro, o canino com o qual adentra as matas em suas
caçadas rotineiras. Arroz, feijão com farinha regado a óleo de soja ou caldo de
carne cozida. O filhote é alimentado dentro de casa. Ali mesmo, na cozinha,
estira a comida com a forma de um montezinho. Os cães ficam do lado externo, e
para que a briga não aconteça, Zé também edifica mais dois morrinhos. As
galinhas se aproximam, a fim de beliscar um pouco da refeição. Com uma vassoura,
o dono da cachorrada tange as aves, que minutos depois engolem os restos
inalcançáveis pelos caninos.
O almoço acontece entre 11h30 e
12h30, quando o patriarca da casa chega, depois de trabalhar cinco horas. Zé
está rebocando a residência recém levantada por outro pedreiro. Lá, trabalha ‘por
dia’, e pela diária de oito horas embolsa 20 reais.
Vera, como a grande maioria das
mulheres na região, é dona do lar. É ela quem vigia os quatro filhos, as
galinhas, os cachorros, os gatos e os passarinhos. Na casa deles há poucas
gaiolas; quatro no total. Enquanto noutros domicílios esse número alcança a
marca de, no mínimo, meia dúzia.
É assim na casa de dona Aliça. Há rolengos,
sabiás, estraladores e coquis. Sem aparelho de som, é o barulho do galo e dos
passarinhos engaiolados que quebram o silêncio do vazio.
Na cozinha, há uma sabiá-verdadeira
prestes a mudar de cor. O colorido dá vida ao pássaro depois de certa idade. No
tempo em que dona Aliça cozinha, a ave cantarola sem pudor. À tarde, como de
praxe, verifica se o marido fechou o poleiro. É lá que as aves dormem quando a
noite desmonta; quando o sol está nascendo é ela mesma quem se encarrega de
abrir a casa das aves e alimentá-las mais tarde.
É assim, a cada novo amanhecer.
**
Esta crônica faz parte da série "Cafés baianos", que conta histórias de pessoas e lugares dos povoados da cidade de Barra do Choça (BA) - cidade a qual vive durante muitos anos da minha vida.
**
Esta crônica faz parte da série "Cafés baianos", que conta histórias de pessoas e lugares dos povoados da cidade de Barra do Choça (BA) - cidade a qual vive durante muitos anos da minha vida.
Um comentário:
Suas crônicas sempre me fazem lembrar de casa, no interior, acho que os interiores de Brasil são bem parecidos.
Postar um comentário