Em vez de amigo secreto, uma
espécie de inimigo revelado. Antes dos presentes, um básico ritual: as DRs. À dianteira
do mimo ao colega, primeiro, a lavagem de roupa suja. E na discussão do
relacionamento, a dança das cadeiras dos namoros: fulano que pegou cicrano, que,
por sua vez, brigou com beltrano por conta do chifre trocado.
Entre farpas e beijos, por
fim os presentes nada imprevisíveis. Todos já haviam lançados seus desejos –
alguns até experimentado as roupas futuras: a amiga que queria uma bata, o amigo
que fantasiava um perfume. E embora a imprevisão, um presente extra. Sim. Sempre
dois pacotes: um par de blusinhas, uma taça com uma toalha bordada com a frase
no braço da tatuagem do preterido.
Eles se reuniram na casa de
um dos amigos. Cada membro se incumbiu pelo ornamento da sala ou pela compra
das rosas (brancas e vermelhas). As flores simbolizavam a paz e o amor: a
branca aos antagonistas, para banhar o espírito da paz; a vermelha aos irmãos-camaradas.
A sala miúda acomodava o
grupo. Uns sentaram-se nos sofás individuais que se juntaram para otimizar
espaço, enquanto os demais se ajeitaram no chão sob o tapete limpo no dia
anterior – com o olho arregalado da dona, atenta a qualquer possível ameaça ou,
no caso, às batidas ou às cervejas ou aos vinhos, despejados no estofo. A prosa era ser regada a
batida de maracujá, vodka com refrigerante de guaraná e latinhas geladas de
Skin 350 ml.
A cerimônia fraternal teve
início com um vídeo especialmente feito à ocasião. Na televisão de 21 polegadas,
cada um dos 14 amigos-e-rivais tinham suas fotografias individuais expostas na
tela – cada qual em uma situação específica. Em seguida, foi a vez dos vídeos
(com imagens em movimento dos momentos das cachoeiras e das baladas), que
solenizavam os instantes de risadas e diversão. A porta fechada abafava o ambiente,
apartando a luz do sol que invadia a casa com uma quentura infernal.
Para um dos palestrantes à
entrega dos presentes, 2012 foi um ano de perdas densas, mas também um período
de aprendizado para o ano que adentra. Consciente dos flagrantes de confusões e
revoltadas, a confissão era de amor. Quase como o texto “A quadrilha”, de José
que ama Maria e Maria que ama que João... No entanto, apesar do amor
incondicional, talvez a verdadeira razão para aquela irmandade era a tradição.
Há quatro anos, a trupe
segue o rito. Enquanto um elemento do grupo se encarregou de produzir o
videoclipe, outro se delegou em fabricar o CD exclusivo, com catorze faixas
musicais com a canção predileta de cada componente.
Depois do troca-troca dos
regalos, a feijoada. Pratos atulhados de feijão preto com farofa e saladas
abandonavam a cozinha rumo ao assento mais próximo. Após o rango, melancia para
refrescar a tarde que aquecia com pagodões e arrochas. Ao som das músicas que
dominavam com destreza dançavam e cruzavam os olhares ternos e afetuosos, mesmo
que de relance, e no lance de orgulho infeliz mostravam que a felicidade existe
entre todos, que brigam e se amam com a mesma força que se odeiam.
“O amor e o ódio
vivem lado a lado”, profere um do grupo. E essa deve ser a principal razão para
que entre estimas e desdéns eles jamais deixem de repartir a mesma casa, as
mesmas bebidas e os mesmos sorrisos.
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