segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Aos 18


Enquanto a lua cheia imperava no alto da noite natalina, em terra firme foi um pequeno homem quem se anunciou: apenas em um olhar de relance e um “Oi” coletivo -- tão passageiros quanto suas pernas curtas, no passo ligeiro.

Ele sequer alcançou a segunda unidade. Explico. O cabelo era aparado com a máquina número 1, medida também equivalente a sua estatura – que não chegava aos 1,70 m. No corpo miúdo, a calça justa contornava as pernas torneadas, da mesma forma que a camisa evidenciava breves os músculos aparentes. 


A pele era cor de chocolate amargo, em contraste ao olhar doce. Tinha as pálpebras caídas e a voz grave, que, de longe, não denunciavam a recente chegada da maioridade.



Os 18 anos não lhe eram estranhos. Afinal, ele seguia seu percurso naturalmente, sem pressa. E nesse anúncio, fez um olhar alheio procurar o seu, no mesmo instante em que se instaurou uma espécie de crise etária: o outro vivia ainda abarrotado aos protocolos. “O que há demais no 18!”, pensou. “Ao menos já não é mínimo”, discutiram mentalmente seu tico e teco.

A separação de sete anos de idade entre um e o outro pareciam um distanciamento de sete décadas. Mas não eram. Uma diferença equivalente, num paralelo bem grotesco, à fase de uma criança na segunda série do ensino fundamental. E o mínimo que se podia fazer nesse conflito etário foi deslembrar os anos para pensar (e aproveitar) os segundos – sim, aqueles segundos.

Abandonaram então quaisquer burocracias para viver as simples emoções de uma noite clara, com frases expulsas levemente de sua boca de dentes alvos e lábios negros.

Em meio à declamações de trechos de Rihanna e Lana Del Rey, seguiram o mesmo tom, desafinado, mas com risadas acertadas como se fossem “diamantes no céu” e não um “verão de tristeza”.

Sem qualquer tipo de frustração etária, os beijos seguiram a mesma sincronia no exato momento em que os braços encobriram às costas –até então alheias – à procura do aperto comum. E sem aparto, emendaram-se numa rua de terra batida em meio a casas desconhecidas com a trilha sonora dos grilos – os cúmplices da noite.

O anoitecer quebrou protocolos e qualquer possível trauma dos 18 anos, simplesmente porque não há regras. Sem terapias, os beijos doces nasceram – mesmo que já tenham morrido – naquela noite em que o encanto e o flerte falaram mais alto que os anos.

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