Escola Estadual Profº Homero dos Santos Fortes, Paraisópolis, SP |
Dona Nair, 50 e poucos anos, está na rua conversando com mães que
aguardam os filhos, que desde às 7h da manhã estão defronte ao ainda quadro
negro. Desde que me entendo por gente,
ou mais precisamente no alto de 1997, dona Nair carrega nos cabelos crespos
estilo `joãozinho` o branco da idade. Na voz grave,
bradava nos corredores de seu antológico serviço, a impotência de sua profissão:
monitorar as centenas de alunos que passam diariamente pela Escola Estadual
Homero dos Santos Fortes, encravada na rua que carrega o nome do sociólogo e
filósofo inglês Herbert Spencer.
Em Paraisópolis, a escola funcionava apenas o ensino fundamental. Muitos anos mais
tarde, deu espaço somente aos alunos de ensino médio. Hoje, abriga apenas
estudantes que interromperam os estudos ao longo da vida. Treze turmas de EJA
(Educação de Jovens e Adultos) dão a oportunidade para estudantes a partir dos 18
anos de idade, a retomada dos estudos.
Diferentemente de tempos em que conquistar um cadeira em uma sala de
aula da comunidade era raridade, atualmente a oferta de vagas aumentou, e
pode-se dizer que “não estuda quem não quer”.
Paraisópolis tem cerca de 15 mil analfabetos, anuncia a Associação de
Moradores. Em tempos que leilões Programas de Alfabetização angariam fundos, carros de som e faixas em muros e postes convocam jovens e adultos ao retorno
das aulas.
Beirando o meio-dia, no alto de
uma quinta-feira de março, treze anos após pisar diariamente no “Homero”, além
de dona Nair, a desde sempre vice-diretora Lais, de cabelos amarelos e olhos
fortemente azulados revestidos pelas lentes de um óculos de aros verdes,
cumprimenta moradores em frente ao colégio. Aproximo-me dela a fim de não
resgatar em sua memória minha fisionomia, intencionando que ela me dissesse
“Quanto tempo! Como você está?”.
Ele me cumprimenta como se me conhecesse. Aborto o dialógo em potencial, perguntando se o ensino fundamental ainda é oferecido na escola. Um “faz tempo que não é mais" é ecoado por sua voz doce. Nesse momento ela
ampara sua mão em meu braço, e preocupada, indaga: “Você ainda não fez sua
inscrição?”. Mais de uma década mais tarde em que havia cursado a 4ª série C, eu não
estava na minha antiga escola para fazer uma inscrição para o EJA.
Queria rever os muros que me abrigaram durante quatro anos de minha vida. Treze anos depois, encontrava-me, como jornalista, a fim de não simplesmente rever os ainda funcionários de minha ex-escola, mas entrevistá-los para uma matéria sobre o cenário educacional na comunidade, que ainda, e infelizmente, continua precário, ascendendo, claro, mas a curtos passos.
Aqui você vê um blog da escola feito pelos professores.
Um comentário:
Meus cumprimentos pela criação.. ZZ
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