Um artista:
Antônio Ednaldo da Silva -
popularmente conhecido como "Berbela"
Um local:
Paraisópolis - segunda maior favela de São Paulo
Antônio Ednaldo da Silva -
popularmente conhecido como "Berbela"
Um local:
Paraisópolis - segunda maior favela de São Paulo
"É na oficina alugada de dois cômodos, dentro de um estacionamento e mais treze casas, que o pernambucano Antônio Ednaldo da Silva transforma velharias em obras de arte. Tornou-se celebridade na comunidade onde vive e conta que até a Modonna não resistiu ao seu talento."
Quem é esse artista? De onde veio?
Cabelos castanho-escuros encaracolados, presos por um elástico. Pele morena. Rosto enfeitado com um bigode modesto sob os lábios carnudos. De camiseta azul. Calça jeans, já consumida pelo tempo de uso e sapato que mais parecia uma botina.
Similar a trajetória de milhares de nordestinos que vislumbram na capital paulistana, a esperança de um futuro melhor, a história de "Berbela", apelido do pernambucano Antônio Ednaldo da Silva, não é diferente. Natural de Pernambuco, desembarcou em São Paulo em 2001, mais precisamente em Paraisópolis, com a esposa e os quatro filhos.
A descoberta do dom
A habilidade com o aparelho de solda é de longa data, Berbela sempre trabalhou com esse serviço, mas a fabricação de obras de arte surgiu por acaso.
Tudo começou quando, em visita ao parque do Ibirapuera, o filho mais velho, de 13 anos na época, pediu ao pai uma bicicleta, igual as do parque. Um pedido caro para quem ganhava pouco. Mas como não podia comprar uma, o pernambucano pensou em personalizar a que tinha.
No dia seguinte, Berbela resolveu 'fazer', ou melhor dizendo, enfeitar a bicicleta simples do primogênito. “Não estava fazendo nada de serviço. Peguei a bicicleta que ele tinha e fiz do mesmo jeito da que ele viu lá. Cortei no meio. Arrumei uns canos d'água. Emendei e fiz uma bem grandona como ele queria”, revelou o artista, que naquele momento autodescobria seu talento.
Ao chegar da escola, o filho não se conteve com a "velha" bicicleta, que havia sido completamente transformada, e até batizada: “Berbela”. Registro esse, que não ficou restrito ao veículo. A partir daquele momento, todos passaram a chamar Antônio Ednaldo da Silva com o mesmo nome de sua primeira criação. “Eu vi esse nome lá no Pernambuco e achei bonito”, revelou. Aos poucos, a bicicleta passou a ganhar inúmeros adereços. O primeiro item foi um motor. O que era bicicleta tornou-se um "triciclo", composto ainda por dez cornetas, uma televisão, um ventilador, um rádio e quase duas mil lâmpadas coloridas.
A criação das "motobicicletas"...
Em 2002, com a Copa do Mundo, o veículo recebeu os tons verde e amarelo. Ela é utilizada por ele para passear, ir ao shopping com a família. “Eu saio com a Berbela mais pra passear, pra ir ao shopping, pois tem lugar pra pôr os meninos e cestas pra colocar as compras”, conta. Das quatorze bicicletas criadas por ele (incluindo as miniaturas), três delas são motorizadas.
Em 2006 'nasceu' a Berbelinha, declaradamente considerada por ele, a xodó. E não é para menos, a ornamentação da "magrela" - que convenhamos, não é mais magrela mesmo, pelo menos nas mãos de Berbela - espanta qualquer um que se tem uma concepção formal do que seja uma bicicleta: são mais de duas mil lâmpadas coloridas, três telas de DVD e um rádio, ligados por uma bateria presa ao veículo, possui alarme de segurança, sirene, e ainda uma caixinha exclusiva para armazenagem dos controles-remotos e ferramentas.
E claro, as cores verde e amarelo predominam no veículo com três bandeiras brasileiras hasteadas em homenagem à Copa Mundial, realizada naquele ano. “Tem tudo nela. O que você pensar tem”, reforça ele.
Outras obras de artes (até vocalistas da banda Calypso)
Velas de carro, parafusos, escapamentos de moto, rodas. diversas... Tudo em suas mãos é transformado em arte: baratas gigantes, escorpiões, lacraias, centopeias, abelhas. Há bichos feitos de lata, soltos pela oficina do artista, expostos pelo chão e paredes. Até artistas da música popular caíram nas graças do artista. As esculturas de Joelma e Chimbinha ficam lado a lado, bem em frente a oficina. “Eu fiz primeiro o Chimbinha. O povo ficou insistindo até que fiz a Joelma também. Ela ficou um pouco descabelada, mas tudo bem”.
O amor de Ednaldo ao que faz ultrapassa o que se chama de racionalidade. para muitos. É mais do que um mero ofício. Os olhos do nordestino entregam a paixão que sente ao que faz. “Às vezes eu tô aqui e até falo com os bichos. Eu não tenho estresse. Eu lavo eles. Dou banho. Faço pintura pra não eles enferrujarem. É assim, eu não gosto de ver minhas coisas maltratadas".
Obras de artes X Casamento
Casado há quase 22 anos, ele relembra que no início da fabricação das obras, a esposa não o apoiou. “No começo ela achava estranho. Me chamava até de abestalhado, de doido". Mas engana-se quem acredita que Ednaldo tenha feito faculdade ou até mesmo um simples curso em artes plásticas: “Nem meu nome eu sei assinar direito. Eu não quero estudar não. Nunca gostei”.
HIstórias bizarras...
Ele conta que o único acidente que sofreu aconteceu quando uma das duas rodas do veículo se soltou ao viajar a 100km/h e, ao invés de ajudá-lo, um motorista parou o carro para tirar fotos do ocorrido.
Outro caso interessante aconteceu há 7 anos, quando uma viatura de polícia o abordou pedindo os seus documentos e os da bicicleta motorizada."Eu disse aos PMs que só tinha o RG, que havia tirado há poucos dias. O policial perguntou o era aquilo [a bicicleta]. Ligaram o ventilador. Ficaram olhando... Pediram desculpa e perguntaram se podiam tirar foto”, relembrou o caso.
Madonna quis conhecê-lo
Em Paraisópolis, ele já se tornou figura popular. Adquiriu os quinze minutos de fama ao participar de vários programas de televisão. E ainda confessa que até a rainha do pop não resistiu ao seu talento, quando ela apresentou-se em SP na última turnê: “A Madonna mesmo queria me ver no estádio do Morumbi, mas estava chovendo e eu não pude ir".
Dificuldades
Embora a felicidade estampada através do sorriso tímido, ao falar de sua vida , ele lamenta não ter um local adequado para guardar e fabricar novas peças: “Eu tô meio triste porque tô vendo a hora de vender isso aqui e não ter onde trabalhar”.
Atualmente o que garante o sustento da casa é a renda da esposa e dos filhos que trabalham. Ele afirma que o que ganha com os trabalhos de soldagem consegue apenas quitar as contas do aluguel da oficina, água e luz.
O pernambucano sonhador
“Enquanto vida eu tiver, quanto mais pra frente... Mais vontade eu tenho de fazer mais coisas. Só Deus pra me empatar. Eu ia fazer coisas inacreditáveis. Algo pra ficar na história de São Paulo”.
Um comentário:
Assita a matéria sobre o Berbela na Morumbi.TV!!!
http://www.morumbi.tv/video/?chm=91480603AI5632168250959455&tit=Berbela
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