segunda-feira, 31 de maio de 2010

Que Deus te abençoe, meu filho!

Você pede a bênção aos seus pais antes de dormir ou ao acordar? Bizarrice ou respeito?


Ao longo de minhas duas décadas de vida, o pedido de bênção foi, não obrigatório, mas costumeiro, religioso. Até hoje, mantenho vivo esse costume, que reflete muito mais que uma obrigação cristã, mas uma característica enraizada culturalmente através da família e do meio social onde fui criado.

Evidentemente, no decorrer anos, o hábito vem se tornando impraticável. Desde que desembarquei em São Paulo, raras foram as vezes em que presenciei essa tradição. Bizarro para muitos - especialmente à garotada "moderna". Mico para tantos outros. E um costume imprescindível e praticado por muita gente ainda. Muito escutei por aí: “Dar 'bença'? Acha que vou pagar esse mico?”

Acompanhando a rádio Record AM em uma dessas manhãs, notei que a tradição ,em pauta neste texto, é mantida porPaulo Barboza Filho, repórter da rádio, ao solicitar o “Bença, pai!” ao âncora, Paulo Barboza, que de praxe, dirige o “Que Deus te abençoe, meu filho!”.

A bênção, que segundo os livros bíblicos, é "a mão de Deus sobre nós", o seu pedido, seja aos mais velhos, aos pais, ao vizinho, ao amigo, ao parente (até mesmo a alguém que você nem se lembra, mas que te carregou no colo há vinte anos) era até pouco tempo uma tradição viva do povo brasileiro.

Impossível esquecer o "Que Deus te abençoe, meu filho!" – que retrucava dona Delita, aos 63 anos de idade, todas as noites quando adentrava à sala de aula, em minha época como professor de jovens e adultos, na Escola Municipal Rui Barbosa, na Bahia. Enquanto isso, seu Joaquim, no alto de seus 65 anos respondia de maneira distinta à colega o “Que Deus te dê boa sorte!”

Em meu regresso à pequena cidade natal, ao me deparar com os indivíduos aos quais desde moleque estendia a mão solicitando a bênção, meus avós, e tantas donas Marias e seus Josés, a prática sadia do pedido solidificava a tradição, ainda mantida em lugares como as quais vivi, evidentemente de forma minimizada, se compararmos há décadas. Entretanto, pouco se percebe esse hábito nas cidades grandes.

Mas antes que você se pergunte “pra que diabos pedir a bênção?”- esta ,que é uma indagação comum dos meus primos e amigos da "nova geração", dos que consideram bizarrice ou mico tal ato. Todavia os mais velhos tinham sempre na ponta da língua, a resposta aos jovenzinhos ou até mesmo os adultos que não praticam tal costume: “Meu filho, a bênção é importante não para quem dá, mas para quem recebe.”


Confesso que desde que cheguei a São Paulo, basicamente não pratiquei esse hábito, oque demarca o retrato da perda desse costume, não exclusivamente de minha parte, mas de uma sociedade que não se enxerga mais inserida a esses costumes. Não me recordo quando pedi a bênção pela derradeira vez. Aliás, lembro-me sim... à dona Maria, que chegara recentemente da Bahia (até beijinho na mão dela eu dei).



Mas quando pedir a bênção?
- ao entrar na casa
- antes de sair
- pela manhã (ao acordar)
- pela noite (quando dormir)

E caso você não peça?
- pode esperar que será visto como o mal educado
- ou que você não respeita aos meus velhos.

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