Mané não divide a cama com uma mulher
já faz um bocado de tempo. Separado de Elenildes, sua ex-esposa, com quem
esteve casado por, pelo menos, uma dezena de anos, passou a ser seletivo para com
as mulheres. Preferiu apropriar-se definitivamente do clichê que não se cansa
de arrotar, assim que é indagado por alguém que lhe exige explicação por sua
ausência de uma ‘dona’. Desde que foi vítima da infidelidade conjugal, é “antes
só do que mal acompanhado” que Mané garante ser sua principal filosofia de vida.
O filho mais velho de seu Manoel e
dona Cleonice não pertence às estatísticas da média local de natalidade. Mané vive em um povoado de Barra do Choça (BA), o quase cinqüentão teve somente
dois herdeiros – a maioria das famílias garante ao menos 4 a 5 crias.
Elenildo é o primogênito, no vigor de
seus 23 anos. A caçula, Fernandinha, em breve, dará ao pai o primeiro neto. A
adolescente saiu de casa depois de viver com a avó paterna; quis seguir a
teoria da mãe de seu pai que pregava a libertinagem da neta. E a profecia se realizou.
Em seus curtos 16 anos, Fernandinha se amasiou com um rapaz que, para o pai da mais
nova grávida da praça, é “um moço direito”. O mancebo de 19 anos lucra um
ordenado mensal considerável. O trabalho como gesseiro tem lhe consentido gastar
com roupas caras, para revolta da avó da moça. Para dona Cleonice é preciso saber
viver direito e não luxar como tem feito o casal de jovens.
É em cima duma moto peitada com o
serviço de gesso em que o casal visita o pai e almoça, ora ou outra, com os
avós. Com o bucho que agora guarda uma criança de sexo ainda indefinido a
menina espera mais dois meses para parir.
Mané vive do trabalho da lavoura. É
na colheita de bananas de espécies variadas a garantia de seu salário invariável. Entre abres e fechas, ele mantém defronte a
sua casa a venda sem nome. Duas mesas de sinuca vivem sempre ocupadas por
jogadores amadores. Uma ficha custa 50 centavos – o mesmo preço de um copo de
pinga. Fedegozo, carqueja e a clássica purinha são algumas dos tipos de cachaça
que o bar dispõe aos fregueses. Ali não falta cerveja, nem refrigerante, assim
como mortadela a cinqüenta centavos “um dedo”, amendoim, pimentinha e doces.
Mané é livre, não como os pássaros em
que aprisiona em gaiolas feitas de taquara, mas convive sem a necessidade de uma “dona” ao seu lado.
Se por amargar durante todos esses anos o peso da infidelidade, ou se por não sentir, de fato, a carência de uma presença feminina em seu lar, ele vive com a alegria do bar
que, a cada final do dia, enche de fregueses quem lhe traz o sorriso alegre de quem não se esmorece com as traições da vida.
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Esta crônica faz parte da série "Cafés baianos", que conta as histórias de pessoas e dos povoados da cidade de Barra do Choça (BA) - cidade em que nasci e vivi alguns dos anos mais felizes de minha vida.
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Esta crônica faz parte da série "Cafés baianos", que conta as histórias de pessoas e dos povoados da cidade de Barra do Choça (BA) - cidade em que nasci e vivi alguns dos anos mais felizes de minha vida.