- Xérox! Xérox!
- Por que tanto falam ‘xérox’
se estou em um restaurante?"
- É claro que essa menina
não está dizendo isso pra mim!”
O roteiro turístico corria na perfeita normalidade para Robson, um paulistano que visitara pela primeira vez a cidade de Recife. Deslumbrar as belas paisagens, com praias exuberantes , além de saborear a típica gastronomia do local, estava previamente programado por ele, assim desembarcasse em terras pernambucanas. Entretanto, a casualidade fizera questão de marcar as férias do rapaz, não somente pela bonita cidade, mas também pela história de uma menina com o nome, no mínimo, inusitado.
O restaurante de Boa Viagem, na verdade uma lanchonete mais requintada, seria mais um lugar comum, como tantos outros espalhados por toda parte, mas se tornara um dos locais mais inesquecíveis para Robson, naquela tarde de 15 de agosto de 2000, em que o Sol reinava no céu de cor anil.
Corpo nitidamente desenvolvido. Apenas 13 anos de idade. Bem apresentável. Trajada com um singelo jaleco branco. Unhas alvas. Madeixas cacheadas disfarçadamente amarradas para trás com a utilização de um gel capilar. Assim estava ela. A garota, uma das atendentes do restaurante, e singularmente detentora do nome, que Robson – e acredito que muita gente - jamais pensara que alguém pudesse ser batizado.
- Xérox! Xérox! – a palavra fora pronunciada várias vezes por pessoas que dirigiam-se à jovem.
Por que tanto chamam o nome ‘xérox’ neste restaurante? Importunou-se Robson. Queriam obter a fotocópia de algum documento? – pensou ele.
Porém, retornaram a indicar à palavra “Xérox” à jovem. Tal indagação “consumiu” Robson, que estranhara o atendimento, sem nenhum tipo de referência da garota a uma possível máquina ou local propício para a cópia de documentos ou algo similar.
Curioso e aquieto, Robson não resistiu, e quis sanar sua interrogação.
- Vem cá... – conduzindo- se à jovem - Estão chamando você de Xérox ou estou enganado?!
Sem qualquer tipo de constrangimento ou incomôdo, ela afirmou que sim. Melhor dizendo. Que era seu apelido.
- Meu nome é Xerocópia. Mas sou conhecida como Xérox, aqui pelo pessoal. - afirmou ela.
- Você está falando sério? Seu nome é Xerocópia mesmo?! – Robson ainda não conseguira crer no que acabara de ouvir. Segurara o riso. Prendera a respiração. “É claro que essa menina não está dizendo isso pra mim!” – imaginou ele.
- Sim. Isso mesmo! – garantiu com concisão a jovem.
De forma bastante incisiva, Xerocópia revelou que para ela aquele nome era muito significativo, embora muitas pessoas o considerassem motivo de chacota. O que seria um fardo carregado a vida inteira, de certo, uma ingrata homenagem para uma grande parcela. Para ela, não!
Este nome simbolizava o desejo do pai da garota em possuir, de alguma forma, o que tanto admirava: uma máquina xerocopiadora. Não necessariamente de maneira material, já que as condições financeiras expressam a impossibilidade da aquisição do equipamento, mas sim, eternizar de uma outra forma, homenageando a filha primogênita.
Xerocópia revelou com orgulho, a Robson, o turista que acabara de conhecer, que com toda a garra e luta,o pai conseguiu, aos poucos, melhorar as condições de vida da família, aproximando do objetivo em montar um pequeno bazar, e claro, adquirar com a prosperidade do negócio, uma máquina copiadora. O pai da jovem pernambucana viera a falecer. A mãe tomara conta das atividades comerciais, que tomou novo rumo, com a abertura do restaurante.
Para Robson, o relato de Xerocópia serviu como experiência ao demonstrar o significado de certas coisas, que são as atitudes das pessoas, as decisões que elas tomam no decorrer da vida, o valor mais importante imbutido no ser humano.
Seria simplesmente cômico gargalhar do registro de batismo de alguém que fora batizado com o nome de uma máquina. Mas poucos minutos foram suficientes para prestar atenção e valorizar a história da família.
- Um homem simples daquele, com uma percepção humilde... Tamanha, que nunca desistiu de um sonho, mesmo que de forma “bizarra”, conseguiu o que sonhara. – contou Robson.
Robson nunca mais voltara a Recife e também jamais esquecera de Xerocópia. Marcada pela forma cômica, entretanto, como aprendizado, ele narrou a história da garota, com a certeza de que existe a necessidade em dar sempre a oportunidade de ouvir as versões dos fatos, dos signficados, pois muito mais fácil do que gargalhar de algo aparentemente bizarro, é compreender o que há por trás de cada história, de tantos nomes diferentes batizados por aí.
8 comentários:
Vagner,
O texto ficou lindo, a sua sensibilidade fez a grande diferença em eternizar um momento inesquecível como este. Obrigado!
Sensacional!!! Que delícia de texto, parabéns.
Amigo!!!
Adorei!!Continue se inspirando sempre!!Abraços...
Esse texto nos faz repensar em como é fácil sorrir de algo quando se tem a prévia noção do significado das coisas! Lindo texto! Parabéns!!!
Realmente, um nome exótico: Xerocópia! “Uma cópia original, em carne e osso!” rsrs
Por detrás de cada nome pessoal sempre há uma história. E muitas vezes a “ingrata homenagem” tem um sentido tão amplo e profundo, se não bem afetivo, para aquele que a faz, que aquele que a recebe assim que conhece a origem desta, carrega seu “fardo” sem problemas e/ou com muito orgulho. Ótimo texto! Parabéns!
Mais um texto fascinante que prende a atenção do leitor do início ao fim. Eu que acompanho sempre o blogg não estou surpreso, nem admirado. Mas para quem não o conhece, é de se destacar a sutiliza que lida com as palavras e claro, sua enorme capacidade em ouvir as histórias e contá-las para nós "humildes" e apaixonados leitores do seu blogg.
Vagner o texto esta realmente mto bom, a msg esta de acordo com varios temas atuais.
É preciso se ao menos, se dihnar a ouvir o outro!!!
Parabens!!!
A revista Boteco Cultural [ botecocultural.com.br ] citou esse texto na área 'Sugestões da Casa'
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