O Crossfox prata “apagou” duas vezes antes de adentrar, por completo – ainda que tortamente –, a garagem. Enquanto ela carrilava o portão, prendendo-o com correntes e cadeado, as sandálias havaianas de Fabiano estalavam no chão, em sintonia – ou não –, com o barulho da sacola de papel branca e laço preto que trouxera naquela noite, minutos da véspera de Natal.
Fabiano estava de camiseta básica, vermelha, e bermudão azulado. Continuava com o mesmo sotaque paulistano e sorriso luminoso.
Até uma hora antes, eram dois seres solitários em suas casas, largados em seus respectivos sofás, em meio a uma segunda-feira preguiçosa que inaugurava o período de férias.
Treze quilômetros depois, o contato via whatsapp deu lugar ao face a face, olho no olho.
Suas mãos, que até então apenas digitavam o teclado do Iphone, na zona leste, se encontraram com as dela, na zona sul, ainda na garagem, em antecipação ao abraço acanhado, em seguida.
Das mãos de Fabiano também vieram aquilo que ele chamou de “presente”. Dentro do embrulho um vinho seco italiano e um panetone de chocolate. “Pra você”.
O panetone ficou intacto; ao contrário do vinho.
Havia somente duas taças no armário: o suficiente para embebedarem a noite.
Completadas até a metade, penetraram à sala cada um com a sua taça entre os dedos.
Já esparramados sobre o sofá de três lugares, brindaram não sei o quê, ao som de ritmos aleatórios da MPB que tocavam na rádio Nova Brasil FM e invadiam o cômodo por meio do home teather com caixinhas de som penduradas sobre o alto das paredes.
O beijo não demorou a ser dado.
“Vem aqui”, disse Fabiano abreviando o toque nos lábios, enquanto arrastava o corpo sobre o seu.
Seu beijo permanecia leve e envolvente, como seus dedos finos que tocavam seu rosto.
Ali, não fizeram juras, embora tenham discutido uma relação que nunca havia sido consumada.
O vinho e as canções românticas, que se alastravam pela casa, eram a trilha sonora daquela história, que, há pouco mais de um ano, no entanto, ainda se fazia por meio de momentos paradoxalmente intensos e vazios; vivos e escuros.
E naquela segunda-feira que se resumiria a um dia meramente reflexivo (ela estava sozinha em casa, resgatando momentos e memórias), Fabiano então invadiu seu sossego através de uma mensagem que poderia ter sido simplesmente rejeitada.
Porém, como ser racional quando seu coração pede apenas que você viva?!
E ela decidiu viver: viver aquele beijo na sala; aquela transa na cama; aqueles beijos apaixonados; aquela noite inesquecível.
Às 10h, um abraço e um “Feliz Natal, Feliz Ano-Novo” foram anunciados, assim que o portão se fechou, selando a despedida.
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