sexta-feira, 13 de julho de 2012

A política na roça


Dum lado um vereador eleito há quatro anos, doutro um lavrador de lábia afiada a fim de trocar a lavoura pela Câmara Municipal. Na roça, todos se conhecem – e o verbo conhecer é fundamental para o sucesso nas eleições.

Os vereadores visitam as vendas dos eleitores, distribuem sorrisos e pagam cerveja. É preciso manter sempre acesa a chama a popularidade. Um copo de cachaça negado pode ser a razão perda de um voto. Na zona rural, os vereadores (e até prefeitos) precisam reconhecer todas as residências de seus prováveis eleitores, quando não nome e sobrenome de seus donos. Nos estabelecimentos em que não dão as caras, sempre acenam, mesmo de longe ou buzinam forte, mas não deixam de “marcar presença”.



A política na roça – pra não dizer em cidades pequenas – funciona na base do tete a tete. A palavra normalmente é levantada na promessa de um cento de blocos, da construção dum banheiro, de uma dose cachaça ou meia dúzia de cervejas sobre o balcão, claro, pagas. O povo na roça é vulnerável. Nessa lógica, é preciso que o político pense sempre no individual, afinal, porque é difícil conseguir o coletivo.

Em um domingo ensolarado em que a poeira embaça as garrafas de cerveja num engradado dentro de um bar, um vereador retira e exibe duas certidões de nascimento do bolso da camisa amassada. Sem agenda ou secretária, apenas outros papéis avulsos, não precisa esforçar-se para guardar as atividades e pedidos de favores alheios: a memória é sempre primorosa.

Dona Maria precisa da carteira de identidade, o vereador se propõe a conseguir outra. Porém a certidão de nascimento está aos pedaços. É preciso então tirar a segunda via do documento, para, então, obter o RG. E é o próprio vereador quem se incumbe de tal serviço.

A história de amor entre político e eleitor na roça tem prazo de validade: dura exatamente 4 anos. A cada mandato uma nova relação. Quem pertencia ao lado situação e se bandeou para a oposição, é nome riscado da lista. Os vereados eleitos – e principalmente ou não eleitos – sabem exatamente de quem recebeu os votos. E não é mágica. É contabilidade. Contabilidade enquanto o voto durar para sempre.



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