domingo, 29 de abril de 2012

Por que estou aqui?


Eu tinha tudo para não estar ali. Mas estava. Faz quase quatro anos, e na minha cabeça é como se fosse ontem: aquele prédio gigante, vendo nos avisos pregados na parede a direção da sala. Diferentemente, dos parentes pedreiros e pintores, em São Paulo, e dos lavradores, na Bahia, eu seria um jornalista.

Era primeira semana de agosto de 2008. Já pudia me rotular como universitário – palavra que, na minha infância soava como ser um semi-deus. Sim. Um semi-deus. Imagina querer ter alguém para se espelhar. Espelhar-se, naquele tempo, era poder contar com algum parente ou amigo que estivesse algumas séries acima da sua. Saber como era o conteúdo do ensino médio. Como era a vida de alguém que tivesse conseguido alcançar o novo. Mas não tive a quem me espelhar.

Na minha família, até hoje somente meia dúzia de parentes concluiu o ENSINO MÉDIO. Apenas seis pessoas de uma família tão numerosa quanto o número de Silva nos sobrenomes. São 100 primos das duas partes. Minha avó paterna já é bisavô de quase dez. Ela que está no alto de seus 65 anos.

Na Bahia, concluir o ensino fundamental era privilégio de poucos. Bem poucos. Naquela época, ou mais precisamente até 2006, não havia transporte para trasladar os alunos da zona rural à escola de ensino médio que só funcionava na cidade de Barra do Choça (BA), há mais de 30 km de alguns povoados – trinta quilômetros de chão de terra e muito buraco. Fiz parte dessa realidade.

Em 2008, quando me tornei ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO, pensava: “Por que eu estou aqui sentava nessa carteira, e não lá fora?”, “O que me motivou a estar aqui, e por que não aos meus demais parentes?”.

Como convencer o meu primo, como quem morei durante esse período, que ele, um ano mais novo do que eu, também poderia mudar seu percurso? Bem, eu tentei. Ele não ultrapassou a 7ª série por priorizar o trabalho – o emprego que hoje nem sequer tem.

Como eu poderia convencê-lo se, naquela época, ele ganhava o dobro que eu? “Para que esforçar-se tanto, acordar cedo, ganhar mixaria em estágio, se num dia de trabalho, ele ganhava muito mais do que eu?”. Era o a curto prazo e o a longo prazo. Minha família sempre pensou no primeiro.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

A cachoeira rasga-short


cachoeira "rasga-short, povoado Cavada I (BA)


Que mané praia?! Aliás, quem ali já teve o prazer de adentrar no mar? Pode-se contar nos dedos. 
Mas nem por isso, quando o sol rachava o chão batido de terra vermelha, principalmente quando o fim de semana chegava, a programação era certeira: partir para a cachoeira famosa por rasgar shorts, cuecas, ou qualquer outra vestimenta.
Oficialmente ela era conhecida como a “cachoeira de dona Maria”, proprietária da terra onde fica a queda d’água, no povoado Cavada I, em Barra do Choça, na Bahia, . 
Depois que usuários passaram a voltar para casa com suas roupas em pedaços, seu apelido ficou como “Rasga-short”. 
A cachoeira é uma extensa pedra íngreme recoberta pela água que sabe-se lá de onde vem. Mas não é uma pedra qualquer em que a correnteza faz-se presente. Lá, a diversão é garantida, pois, literalmente, as pessoas descem cachoeira abaixo.
A correnteza deságua num pequeno rio. Encostadas à beira do mato, distante do lima que possibilita o escorregão, as pessoas sobem. Duma altura razoável, praticamente vinte metros do poço, amparam suas bundas ainda na parte encoberta pela água. Preparam-se fisicamente e psicologicamente, para que assim que estiverem preparadas, se joguem na pedra e assim em alta velocidade possam esconder até acuar dentro do rio raso.
Gente de todas as redondezas saem de longe para curtir os dias ensolarados na “Rasga-short”. Há que faça churrasco. Leve bebidas. Se estire sobre a pedra para o banho de sol. 
Protetor é raridade. Óculos de sol comprados na feira de domingo via-se aos montes. Não há biquínis – shortinhos eram o traje apropriado às moçoilas. Os meninos se exibem com cuecas.
Boqueirões formam a paisagem de quem se direcionava para lá. Algumas casas. E um pouco mais abaixo ainda. Muito mato. Distante da estrada principal. Mas se o buraco - ou a cachoeira - é embaixo. A diversão, com certeza, sempre fica nas alturas!
Quando eu voltar a Bahia, tem dúvida de que quero rasgar um short também? 

terça-feira, 3 de abril de 2012

Vida em Crônicas saiu do blog

Mural do Vida em Crônicas exposto em comemoração ao 44º aniversário de Barra Nova (BA)
Coincidentemente, no dia do meu aniversário, o blogueiro que vos fala, por meio do Vida em Crônicas, foi homenageado durante o ano da Comemoração do Cinquentenário em Barra Nova.