Uma coisa é certa: o orelhão parece ter se aposentado. Se num passado não tão distante esse aparelho telefônico público era alvo de filas extensas por moradores que ficavam minutos à espera de sua vez, hoje essa é uma realidade inimaginável.
A pernambucana Maria Alves que o diga. Assim que chegou a SP, lá nos altos dos anos 90, ansiava por sua vez em longínquos à utilização do orelhão, quando não desistia, e decidia enviar uma carta pelos Correios - que demorava semanas até chegar na zona rural de onde saíra há alguns anos.
Hoje, esse cenário não faz mais parte da realidade de Maria _como da grande maioria de moradores nas metrópoles da vida_ que se deslocavam de suas terrais natais, lá dos confins nordestinos, e dependiam dos orelhões para a comunicação com os entes queridos. Por causa da internet e dos planos acessíveis das operadoras de telefonia fixa e móvel, as filas no orelhão, ou as cartas, parecem ter ficado no passado.
E todos os dias Maria, agora, fala com sua mãe dona Antônia. Antes, o sofrimento era para comprar as extintas fichas de orelhão e depois os cartões telefônicos de 20, 30, 40 e 50 unidades_ quando o dinheiro sobrava. Toda a parentada se reunia para ir ligar pros familiares. Era tia, prima, sobrinho: todos queriam falar um bocadinho com aqueles que ficaram para trás.
Impossível era não ouvir a conversa alheia. Quase que naturalmente todos berravam ao telefone. Não sei se por problema de audição, ou uma lamentável herança genética, ali estavam aquelas pessoas contando suas histórias. O próximo da fila - e principalmente o último - prestes a dar um treco de nervosismo, pois o ligador da frente dissera um "tchau" pela 12ª vez, e o cartão de 40 unidades parecia ter o quádruplo de créditos.
Hoje, embaixo de seu cobertor, sem filas, sem auditório, as pessoas falam "infinity" em seus aparelhos celulares, o orelhão vive solitariamente nas esquinas da cidade, feliz, ou infelizmente, acompanhado apenas das garotas de programas e travestis, que o utilizam às madrugadas para pregar adesivos com anúncios de serviços sexuais.
3 comentários:
Oh, Vagner,
Como assim o orelhão morreu? Eu sou uma usuária assídua. Depois que roubaram o meu celular e eu passei quase um ano sem um, não consigo mais me adaptar ao aparelho. Por isso, toda vez que preciso fazer uma ligação, vou ao orelhão. Ah, sempre tenho um cartão telefônico na bolsa também.
Patrícia Silva
Sério, Patrícia? Vc é um caso a ser estudado, hehe. Confesso que há tempos não vejo uma viv'alma aderindo ao "orelhudo"! Ainda mais alguém que consegue viver sem celular : O
Beijos!
eu também uso o orelhão, quando eu estou na rua e o celular me deixa na mão (descarrega,acaba os créditos,etc...)
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