Por Henrique Pires
"A Vagner de Alencar, àquele que sempre me faz criar personagens"
Como tremia. Aparentemente de frio. Mas só aparentemente. Seus movimentos involuntários tinham outra natureza. Era fome de dias. Era a desolação de semanas. Era a realidade mais dura num ser ainda tão jovem. Pedia a quem passava moedas e trocados num diálogo que pouco se entendia. Ouvia-se mais claramente a palavra “mãe”. Mãe que perdera o emprego, única forma de sustento. E poucos o ajudavam. Era bonito, e embora não rasgado, fedia um pouco.
Não soube seu nome, nem de mais sua história. Fiquei entre a vontade de ajudá-lo e pensando na vaidade do que poderia estar atrás dessa ação. O ajudei, mesmo assim. Ele facilitou. Excluindo qualquer desdobramento, rapidamente saiu no mesmo diálogo que me abordou. Na verdade, acho que nem era para mim. Era para qualquer ser que o pudesse ouvir, mas mais do que isso lhe dar algo. Dei-lhe dinheiro. Exatamente dois reais. Claro que não foi o suficiente. Porém, a realidade a mim também apertava.
Foi-se embora. Entrei no mercado e então pude comprar.